Abordagem intra-hospitalar inicial e diagnóstico do acidente vascular encefálico

Tempo de leitura: 4 minutos

O Acidente Vascular Encefálico (AVE) está entre as principais causas de mortalidade do mundo, além de ser um quadro de alta morbidade que afeta diretamente a qualidade de vida dos pacientes acometidos.  A detecção precoce e um manejo correto estão entre as principais medidas que podemos adotar para melhorar, dentro do possível, o prognóstico dos pacientes. 

Para mais informações sobre a quando suspeitar de um AVE, leia nosso texto: Triagem Pré-hospitalar do Acidente Vascular Encefálico: quando suspeitar?

Assim, o manejo clínico do paciente com suspeita de AVE deve ser rápido, mas ao mesmo tempo direcionado e individualizado.  

Se estamos em uma unidade de emergência, e o paciente dá entrada com uma triagem pré hospitalar sugestiva de AVE, o que devemos fazer? 

Primeiramente, deve-se lembrar que esses pacientes,em sua maioria, não protegem via aérea. Então, é preciso estabilizá-los e oferecer o suporte necessário de acordo com a abordagem ABCDE.

Para mais detalhes sobre a abordagem sistematizada de pacientes graves ou potencialmente graves, acesse nosso texto: Como identificar e fazer a abordagem inicial do paciente grave.

Feito isso, 3 passos são importantes em nosso manejo: 

  1. Realizar uma triagem hospitalar de qualidade, associada à uma boa anamnese e exame físico;
  2. Excluir diagnósticos diferenciais e estabelecer a provável etiologia;
  3. Realizar o tratamento direcionado

Assim, na triagem é preciso reavaliar os sintomas sugestivos do quadro e, principalmente,  seu tempo de duração. Os sinais de AVE são de início súbito e incluem: 

  • Perda de força/sensibilidade;
  • Paresia facial;
  • Fraqueza assimétrica de membros;
  • Distúrbio visual;
  • Distúrbio de fala;
  • Cefaléia intensa e súbita;
  • Desequilíbrio/tontura. 

Sendo a paresia facial, a debilidade do braço e os distúrbios da fala os achados mais preditivos para o diagnóstico de um AVE agudo.


Para fazermos essa triagem de forma efetiva, onde tenhamos uma avaliação estruturada e quantificada, utilizamos uma das escalas mais validadas: a National Institutes of Health Stroke Scale (NIHSS).

Tendo qualquer suspeita de AVE, o paciente deve ser submetido à Tomografia Computadorizada de Crânio (TCC) imediatamente, sempre levando em consideração a condição clínica para realizar o transporte.

Composta por 11 itens, e com pontuações que variam de 0 a 42, o NIHSS é capaz de nos predizer a extensão da lesão encefálica e nos guiar quanto à melhor abordagem. Os pontos de corte do NIHSS ainda não são um consenso, mas utiliza-se: NIHSS <5 para AVE leve, 5 a 9 para AVE moderado e ≥ 10 para AVE grave.

Essa escala é essencial tanto para acompanhamento e prognóstico do paciente, quanto para avaliação do tratamento aplicado, como nos casos pacientes candidatos à trombectomia mecânica. 

Além desta, o tempo de início dos sintomas, também chamado ictus, é essencial para direcionar o tratamento, principalmente o tratamento trombolítico. 

Além da triagem pelo NIHSS, deve-se excluir possíveis diagnósticos diferenciais e procurar a etiologia do quadro. Para isso, solicitamos  à admissão no Pronto Socorro:

  • Glicemia capilar;
  • TCC sem contraste.

A TCC é um bom exame para diagnóstico de AVE, além de nos fornecer dados que indiquem se o quadro é hemorrágico ou isquêmico. Apesar disso, as alterações à TC em um quadro isquêmico podem demorar para serem visualizadas. Portanto, a principal aplicabilidade dela, nesse primeiro momento, é para exclusão de uma hemorragia intracraniana, o que também é determinante para a abordagem do paciente. 

É sempre importante estarmos atentos aos sinais de possíveis fontes embólicas, traumas recentes e outras doenças concomitantes. 

Outros exames complementares podem ser solicitados, mas não devem atrasar o início do tratamento. Dentre eles estão: 

  • Hemograma;
  • Coagulograma;
  • Tempo de Tromboplastina Parcial ativada (PTTa);
  • Tempo de Protrombina (RNI);
  • Função renal;
  • Íons;
  • Troponina e;
  • Eletrocardiograma.

Por fim, realizada toda a abordagem inicial descrita, deve-se iniciar o tratamento direcionado.

Referência


1 – Coelho BFL, Murad LS, Bragança RD.  Manual de Urgências e Emergências. Rede de Ensino Terzi, 2020

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