Commotio cordis: saiba o que é e como a RCP de qualidade pode salvar vidas

A recente notícia de uma parada cardiorrespiratória (PCR) em um jogador de apenas 24 anos, durante uma partida de futebol norte americano, enalteceu a necessidade de uma abordagem precoce na ressuscitação cardiopulmonar (RCP). A provável condição que desencadeou a PCR no jogador é chamada de Commotio Cordis, que decorre de um impacto direto na silhueta cardíaca, culminando em uma fibrilação ventricular.

O Commotio Cordis figura entre as principais causas de morte súbita em atletas jovens (até 25 anos de idade) e, para que aconteça, um impacto externo na região do coração deve ocorrer no intervalo de 20 a 40 milissegundos da fase ascendente da onda T, período de repolarização ventricular precoce.

Um dado interessante presente na revisão “Commotio Cordis”, disponível na plataforma UpToDate, trás um aumento de 25% para 58% nas taxas sobrevivência de pacientes sob esta condição caso haja atendimento por uma equipe médica capacitada, disponibilidade e uso correto do desfibrilador externo automático (DEA) no local e de um rápido acionamento do suporte avançado de vida.

Para ler sobre as 10 dúvidas mais frequentes no atendimento à parada cardiorrespiratória, clique aqui.

Nesse contexto, iremos destrinchar os principais fatores presentes em um atendimento pré- hospitalar eficaz: a qualidade das manobras de RCP, a organização da equipe que está prestando o atendimento e a disponibilidade de um DEA. Esses fatores estão presentes em uma cadeia de atendimento proposto pela American Heart Association, que divulga, a cada 5 anos, atualizações nos protocolos de atendimento à PCR. 

Clique aqui para ler a última atualização do guideline de atendimento a PCR da AHA.

Qualidade de manobra

Um salvamento de qualidade leva em conta compressões torácicas de 5 a 6 centímetros de profundidade do tórax no adulto, em um ritmo de 30 compressões para 2 ventilações ou de compressões torácicas contínuas, sem o suporte ventilatório, até a chegada da equipe pré-hospitalar. A frequência de compressões deve ser entre 100 a 120 por minuto e quanto menor o intervalo de tempo sem compressão, maiores as chances de sobrevida. 

A fração de compressões torácicas (FCT) é a relação entre o tempo gasto realizando as compressões torácicas e o tempo total de atendimento: o ideal é uma FCT>80%, mas é aceitável quando FCT>60%.

A equipe

Quando se fala em um atendimento de qualidade, destaca-se a importância de uma equipe coesa e com boa qualidade técnica. A definição de papéis e a comunicação em alça fechada são parte fundamental dessa organização, onde a função de cada membro é clara e há uma confirmação do que foi demandado pelo líder, otimizando o atendimento.

Além disso, é interessante observar que, em situações atípicas, onde há um público envolvido, a criação de uma barreira humana, além de conferir maior privacidade ao doente, facilita a comunicação entre a equipe que está prestando socorro. Não se deve esquecer de delegar a alguém a responsabilidade do acionamento de uma equipe de suporte avançado de vida, enquanto o suporte básico é ofertado em atendimento local.

Desfibrilador externo automático

Por fim, a utilização do DEA indica se o ritmo de parada cardiorrespiratória é chocável ou não, podendo reverter completamente o quadro nos casos de Fibrilação Ventricular (FV) e Taquicardia Ventricular Sem Pulso (TVSP). 

Caso o ritmo seja chocável e o DEA não esteja presente, as compressões cardíacas não são suficientes para normalizar o ritmo do órgão, o que provoca maior estresse fisiológico e limita o atendimento ao suporte básico de vida, aumentando as chances de óbito do paciente./

       Dessa forma, os fatores acima citados podem mudar o desfecho de uma parada cardiorrespiratória e a ocorrência de sequelas neurológicas e cardiovasculares, dada a qualidade do atendimento prestado ao paciente.

Referências

1 – Madias, C. Commotio Cordis. UpToDate, DEZ 2022.

2 – Giusti DG. Lesson from the story of Christian Eriksen: The Revised Utstein formula of survival. Science Direct, JUL 2022.
3 – Sociedade Brasileira de Clínica Médica (SBCM). Commotio Cordis é causa de morte súbita em atletas. SBCM, JUN 2010.

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