Anafilaxia – o que é e como compreender a patologia?

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Anafilaxia é um tema de extrema importância na medicina de emergência. Na maioria das vezes a instituição de um tratamento simples e rápido é capaz de salvar a vida do paciente, enquanto atrasos na terapêutica adequada podem levar a uma sucessão de complicações, culminando em um desfecho fatal.

Basicamente, anafilaxia é uma emergência clínica gravíssima, definida como uma síndrome de acometimento multissistêmico, potencialmente fatal, causada pela liberação abrupta de mediadores inflamatórios por mastócitos teciduais e basófilos circulantes. Esse processo é desencadeado pela exposição a um gatilho, um alérgeno ambiental.

Os sistemas mais gravemente acometidos são o respiratório tanto alto, quanto baixo, por meio do edema de glote,e do broncoespasmo severo; e o cardiovascular,com depressão miocárdica, vasodilatação e grande aumento da permeabilidade vascular.

Epidemiologia

Para fins de levantamento de dados, a definição de anafilaxia acaba sendo complexa. Mesmo na Classificação Internacional de Doenças (CID), a descrição não é satisfatória, sendo mais voltada para o choque anafilático. Além disso, o espectro de gravidade é muito grande: algumas reações podem ter resolução espontânea, enquanto outras podem levar à parada cardiorrespiratória (PCR) e morte súbita. Sendo assim, a incidência é de difícil estimativa.

Um dos grandes levantamentos epidemiológicos sobre anafilaxia ocorreu na Europa, estimando uma incidência de até 32 casos por 100.000 pessoas por ano. [1] São dados provavelmente subestimados, mas já deixam claro o tamanho do problema. Estudos no Reino Unido e nos Estados Unidos mostram que nas últimas décadas, as internações por anafilaxia vêm aumentando [2].

Classificação

Uma divisão clássica ocorre entre reação anafilática e anafilactóide. A anafilática seria mediada por imunoglobulinas E (IgE) e a anafilactóide não, sendo causada diretamente pela substância. Desde 2003, entretanto, essa nomenclatura não é mais recomendada, uma vez que o entendimento da doença avançou alguns passos.

Hoje, a divisão se dá entre reação anafilática imunológica e não imunológica. O termo “imunológica” significa que elas são mediadas por anticorpos—IgE ou não. Dentre as reações imunológicas, aquela mediada por IgE é a mais típica e comum, portanto, a que detalharemos mais profundamente. Já a reação não mediada por IgE, envolve outros anticorpos, como imunoglobulinas G (IgG), ou mesmo complexos antígeno-anticorpo.

Na anafilaxia não imunológica, parece não haver qualquer anticorpo responsável, mas há uma ativação direta do sistema complemento ou dos basófilos e mastócitos. Exemplos importantes são: o frio ambiental, ou mesmo bebidas geladas, que podem levar ao aparecimento de urticárias, doença conhecida como urticária fria. Em raros casos pode levar a anafilaxia de fato.

Clinicamente as reações anafiláticas são indistinguíveis –independente do mecanismo. Entretanto, tanto a imunológica mediada por IgE, quanto a não imunológica, dispensam sensibilização prévia. Elas podem ocorrer no primeiro contato.

Este artigo é o primeiro da série em anafilaxia: dê seguimento e aprenda sobre as fisiopatologias da anafilaxia não mediada por IgE.

Referências

1 – Yu JE, Lin RY. The Epidemiology of Anaphylaxis. Clin Rev Allergy Immunol. 2018 Jun;54(3):366-374.

2 – Silva EGM, Castro FFM. Epidemiologia da anafilaxia.Braz J Allergy Immunol. 2014;2(1):21-7.

3 – Panesar SS, et. al. The epidemiology of anaphylaxis in Europe: a systematic review. Allergy. 2013 Nov;68(11)

4 – Campbell RL, Kelso JM. Anaphylaxis: Emergency treatment. UpToDate, Apr 2021.

5 – Coelho  BFL, Murad, LS, Bragança, RD. Manual de Urgências e Emergências. Ed. Curem, 2020.

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