A meningite é uma doença infectocontagiosa que pode ser causada por vírus ou bactérias, de alta morbimortalidade quando não diagnosticada e tratada a tempo.
O patógeno em questão invade a barreira hematoencefálica e provoca uma inflamação das meninges que circundam o cérebro e a medula espinhal, causando manifestações neurológicas abruptas, uma vez que as defesas locais do hospedeiro não são suficientes para controlar a infecção.
A incapacidade do sistema imune de controle do patógeno somada à liberação de citocinas e enzimas proteolíticas desestabiliza a membrana hematoencefálica e resulta em tumefação celular, ou seja, em um edema encefálico e consequente aumento da pressão intracraniana. Pode haver, ainda, herniação encefálica, apoptose de células neuronais por ação direta de componentes bacterianos e/ou pela resposta inflamatória, infarto de vasos cerebrais e hemorragia.
É importante ressaltar que, com o avanço da vacinação, considerada o principal meio de prevenir a infecção, sua incidência vem reduzindo ao redor do globo. No Brasil, o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza as vacinas ACWY e C, específicas para prevenção da meningite, bem como outras que previnem contra diversos patógenos capazes de provocar a doença.
Etiologia
Os principais agentes etiológicos da patologia correspondem à H. influenzae do tipo B, a S. pneumoniae e a N. meningitidis. Contudo, enterobactérias como P. aeruginosa e S. aureus, bem como L. monocytogenes também devem ser considerados em pacientes com suspeita de meningite em imunossuprimidos acima de 50 anos de idade.
Clínica
Deve-se suspeitar do quadro em pacientes com febre alta, prostração e algum sinal neurológico, como fotofobia e cefaleia. A sonolência pode estar presente e é um indicativo de disfunção neurológica. Sinais como rigidez de nuca, Kerning e Brudinski podem ser uma pista diagnóstica importante, mas nem sempre estarão positivos.
Diagnóstico
A punção lombar deve ser feita imediatamente diante da suspeita de um quadro de meningite e é considerada padrão ouro para o diagnóstico do quadro.
Para saber mais sobre esse procedimento na emergência, leia nosso artigo: Punção lombar: Indicações, contraindicações, técnica e complicações.
Para além da punção, deve-se solicitar um hemograma, leucograma e proteína C reativa, bem como exames para calcular o escore SOFA – gasometria arterial, creatinina sérica, bilirrubinas totais e contagem de plaquetas – com o intuito de investigar possíveis disfunções orgânicas.
Para mais informações sobre a sepse, leia nosso artigo: Sepse – clínica e manejo.
Um exemplo da importância dos exames hematológicos é a diferenciação entre a meningite asséptica e bacteriana: a pleocitose é mais discreta na primeira e tem predomínio de leucócitos mononucleares. Já à análise do líquor, no caso de meningite asséptica, não há bactérias ou de seus antígenos. Por fim, na meningite asséptica não há hipoglicorraquia ou aumento significativo de proteínas.
Além disso, deve-se levar em conta alguns diagnósticos diferenciais, como veremos a seguir.
Diagnóstico Diferencial
Infecções endêmicas, como dengue e febre maculosa, constituem diagnósticos diferenciais obrigatórios em síndromes febris hemorrágicas que cursam com manifestações neurológicas. A história clínica e epidemiológica devem ser coletadas minuciosamente.
A hemorragia subaracnóidea espontânea também deve ser considerada, sendo a Tomografia Computadorizada (TC) um exame complementar imprescindível para descartá-la em caso de dúvida diagnóstica.
Doenças autoimunes como doença de Behçet e Lúpus Eritematoso Sistêmico também podem cursar com manifestações semelhantes, contudo, de início insidioso, ao contrário da meningite. O exame de auto-anticorpos pode auxiliar na diferenciação.
Referência
1 – Coelho BFL, et. al. Manual de Urgências e Emergências. Rede de Ensino Terzi, 2020.
2 – Hammer GD, McPhee SJ. Pathophysiology of disease: an introduction to clinical medicine. Lange, 7d Edition, 2016.
2 – Brasil, Secretaria de Estado de Saúde (SES). Meningite. SES, Minas Gerais, Jul 2021.
