“Highlights do episódio” do podcast “Síndrome da abstinência alcoólica: do diagnóstico ao manejo“.
Por definição, a dependência alcoólica envolve a taxa de consumo de álcool, calculada em mulheres por 7 doses na semana ou mais de 3 doses numa mesma ocasião; e em homens por mais de 14 doses semanais ou, se numa mesma ocasião, mais de 4 doses, sendo 1 dose equivalente a cerca de 45 ml de destilado ou 150 ml de vinho ou uma lata de cerveja.
O abuso do álcool tem implicações diretas em diversos sistemas, como doenças cardiovasculares, associação com neoplasias, pancreatite, neuropatias e até mesmo aumento do risco de suicídio
Além da intoxicação aguda pelo álcool, outros problema é o desencadeamento da Síndrome de Abstinência, que é dado pela suspensão abrupta do uso de álcool em um indivíduo que consuma esta substância em grandes quantidades e de forma constante, sobretudo nas duas últimas semanas.
O início dos sintomas pode ocorrer após as primeiras seis horas da suspensão, quando ainda podem ser detectados níveis séricos dessa substância. Os casos leves tendem a desaparecer dentro de 24-48h, mas manifestações graves como crises convulsivas podem ocorrer em até 48h do início.
Diagnóstico
O diagnóstico da Síndrome de Abstinência é clínico e pode ser classificada como:
- Leve ou de Estádio 1: quando há ansiedade, tremores finos de extremidades, cefaleia, náuseas/vômitos e diarreia. Palpitação leve também pode ocorrer nesses casos, sem necessariamente haver alteração dos dados vitais.
- Estádio 2: quando a atividade hiperadrenérgica predomina, resultando em hipertensão, taquicardia, diaforese e até confusão mental.
- Estádio 3 ou delirium tremens: em que há risco de óbito. Aqui, nota-se a presença de manifestações hiperadrenérgicas graves, com crise hipertensiva, diaforese e hipertermia associada a alucinações auditivas, visuais e/ou táteis, confusão mental e agitação psicomotora. Crise convulsiva pode surgir nesta fase e se caracteriza por ser do tipo tônico-clônicas e durando menos de 5 minutos.
Manejo
Instrumentos validados para a classificação de seu estádio e consequente risco são muito úteis, principalmente para nortear o manejo (CIWA-Ar (Clinical Institute Withdrawal Assessment for Alcohol – https://www.mdcalc.com/ciwa-ar-alcohol-withdrawal#next-steps).
Após o somatório dos itens, caso o resultado seja menor que 10 pontos, o tratamento medicamentoso é dispensado e o paciente pode ser liberado com segurança. Valores entre 10 a 14 pontos classificam o paciente em abstinência leve; entre 15 a 20 pontos, com indicação de tratamento ambulatorial com benzodiazepínico, que representa a primeira linha de tratamento. Já valores superiores a 20 pontos e/ou sinais de delirium tremens ou crises convulsivas, há indicação de internação e benzodiazepínico parenteral.
Outras opções de tratamento incluem anticonvulsivantes, beta-bloqueadores e alfa-agonistas como a Clonidina, mas devido à ausência de benefício comprovado na prevenção de delirium tremens e crises convulsivas não são recomendadas de forma rotineira.
Antipsicóticos, incluindo o Haloperidol, ainda que o paciente apresente alucinações, são contraindicados, pois reduzem o limiar convulsivo. A reposição concomitante de Tiamina e soro glicosado para a prevenção de Encefalopatia de Wernicke, além de ácido fólico e correção de eventuais distúrbios hidroeletrolíticos comuns no etilista pesado, está indicada.
Confira o episódio clicando aqui “Síndrome da abstinência alcoólica: do diagnóstico ao manejo”.