Dor aguda na anemia falciforme – como manejar

“Highlights do episódio” do podcast  “Dor aguda na anemia falciforme – como manejar”.

A crise dolorosa vaso-oclusiva dos portadores de Anemia Falciforme é o principal motivo de procura dos pronto atendimentos por esse grupo de pacientes. O caráter recorrente desses sintomas, muitas vezes estigmatiza os pacientes e nesse sentido, recomenda-se a adoção de linguagem neutra e objetiva para a descrição dos sintomas, como a escala numérica da dor, no intuito de nortear de forma adequada a escolha da analgesia; ou ainda a atuação multiprofissional envolvendo psicólogos, psiquiatras e clínica da dor.

Características da dor

O início de apresentação pode ser tão precoce quanto aos seis meses de idade ou tardios, já na na fase adulta, e a duração varia de horas a dias, com  intensidade que pode ser de leve a muito intensa. O local da dor pode ser em ossos longos, abdome e tórax.

Aqui, é imperativo fazer diagnóstico diferencial com outras condições, a saber:  Trombose Venosa Profunda ou Celulite, Doença Calculosa Biliar, Embolia Pulmonar e Síndrome Coronariana Aguda.

Para mais informações sobre a abordagem da dor abdominal, acesse o nosso texto: Dor abdominal no pronto atendimento.

Nos casos de dor torácica em pacientes com anemia falciforme, investigue a possibilidade de Síndrome Torácica Aguda. Esta síndrome álgica depende da identificação de uma imagem pulmonar nova, seja na radiografia ou tomografia; associada a febre e sintomas respiratórios. Habitualmente ocorre aumento de marcadores inflamatórios laboratoriais, como proteína C reativa e neutrófilos. Ou seja, é indistinguível de Pneumonia e, portanto, merece antibioticoterapia prontamente.

Manejo do quadro álgico

Sobre o tratamento do episódio doloroso vaso-oclusivo, dois pilares são importantes: a hidratação e analgesia potentes.

1 – Hidratação

Sugere-se cotas iniciais em bolus de 500 ml a 1 litro de solução cristalóide, seguido da manutenção de cerca de 2 litros por dia, incluindo hidratação oral, que deve ser encorajada.

O objetivo aqui é a euvolemia ou um balanço ligeiramente positivo. O importante é assegurar que o/a paciente não apresente sobrecarga hídrica, especialmente naqueles de maior risco, como cardiopatas e nefropatas.

2 – Analgesia

A Morfina, representante da classe opioide, por via endovenosa é a primeira escolha. Inicie Morfina 0,1 a 0,15mg/kg de peso, oferecendo no máximo 10 mg por dose. Reavalie o paciente periodicamente e repita de 0,02 a 0,05mg/kg de peso após 20 minutos da dose inicial caso ainda haja dor.

Se após 3 doses repetidas a dor não cessar, o paciente deve ser internado por no mínimo 24 horas para administração de morfina contínua. Nesses episódios dolorosos vaso-colusivos, não está recomendado prescrever analgesia de demanda, mas sim de forma fixa com redução gradual após as 24 horas e avaliação para opioide oral.

Com relação as medicações contraindicadas temos:  anti-inflamatórios não esteroidais, corticoides, compressas de gelos nos locais dolorosos,  antiagregantes plaquetários e Meperidina.

Oxigênio suplementar e transfusão apenas se hipoxemia ou repercussão da anemia. E se o paciente já fizer uso de Hidroxiureia, poderá ser mantido.

Confira o episódio clicando aqui “Dor aguda na anemia falciforme – como manejar”.

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