“Highlights do episódio” do podcast “Resolvendo questões do PSU-MG 2022: sinais, sintomas e desafio diagnóstico“.
Caso clínico
Mulher, 53 anos com relato há um ano de episódios paroxísticos recorrentes de rubor facial não pruriginoso na face, pescoço e tórax superior, com duração de aproximadamente um minuto, e que melhorava espontaneamente. Concomitantemente, havia chieira torácica e palpitação de curta duração, que era percebida pela paciente como uma aparente taquicardia regular.
Além disso, há cerca de 3 meses, a paciente vinha apresentando cerca de 6 evacuações ao dia, com fezes líquidas contendo muco, porém sem sangue ou pus, precedida de dor abdominal em cólica que aliviava após as evacuações.
Negava febre ou emagrecimento. Sua última menstruação tinha ocorrido há 18 meses.
Exame físico
- Neurológico: leve confusão mental;
- Aparelho cardiovascular: ritmo regular, movimento paraesternal inferior esquerdo da parede torácica com sopro holossistólico suave na mesma região, mais audível à inspiração e sopro diastólico inicial, aspirativo e suave, ao longo da borda paraesternal esquerda. O pulso arterial estava normal e o pulso venoso central mostrava-se elevado, com onda V gigante.
- Abdome: fígado palpável abaixo do rebordo costal direito, com superfície nodular e irregular.
- Pele, pelos e fâneros: áreas de hiperemia, hiperpigmentação e descamação, predominantes na face, pescoço e antebraço. Havia também queilite angular e glossite.
Qual o diagnóstico mais provável?
Resposta: Síndrome Carcinoide.
Discutindo a questão…
O sinal mais marcante da Síndrome Carcinoide é o rubor facial não pruriginoso de rápida duração e com resolução espontânea, ocorrendo em até 85% dos pacientes. Sua patogenia decorre da produção de fatores humorais como serotonina, histamina, prostaglandina, dentre outros por tumores neuroendócrinos, em geral localizados no trato gastrointestinal ou pulmões, podendo inclusive serem metastáticos.
No caso da serotonina, ocorre uma hiperprodução desse neurotransmissor em decorrência de um metabolismo alterado do triptofano, o que justifica alguns sintomas como a diarreia e as alterações cardíacas, devido à fibrogênese secundária à ativação de fibroblastos, levando a valvopatias.
A alteração de pele apresentada é o pelagra que decorre do desvio da metabolização do triptofano para serotonina que acaba resultando em déficit de niacina, ou seja, em deficiência de vitamina B3, justificando também o surgimento de queilite, glossite e confusão mental.
O rubor facial (flushing) é mediado pela bradicinina e prostaglandinas, podendo acarretar queda da pressão arterial concomitante pela vasodilatação. O broncoespasmo que acompanha o flushing é mediado pelas mesmas substâncias.