Introdução etiológica e epidemiológica ao tema aneurisma cerebral

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A prevalência de aneurismas cerebrais varia de acordo com cada população estudada, mas estima-se que ocorram em cerca de 3,2% da população geral sem comorbidades. É interessante ressaltar que não há diferença de gênero na incidência de aneurismas saculares, que se apresentam por volta dos 50 anos de idade. Além disso, é interessante observar que cerca de 30% dos pacientes diagnosticados com o quadro têm múltiplos aneurismas.

A importância desse quadro deve-se principalmente por se tratar de uma condição assintomática, cuja primeira manifestação pode ser uma hemorragia subaracnóidea (HSA), gerando um quadro clínico variado, mas de alta morbimortalidade. A exemplo, estima-se que cerca de 15% dos pacientes com HSA vão a óbito antes mesmo de receber tratamento médico e que apenas um terço dos pacientes possui bom prognóstico após o tratamento da condição.

Formação dos aneurismas

Os aneurismas saculares ocorrem devido a um enfraquecimento em uma ou algumas regiões da parede arterial (túnica média fina ou ausente), o que leva a uma dilatação do local com a formação de um saco aneurismático. 

Já os aneurismas fusiformes são definidos pelo aumento (dilatação) de toda a circunferência do vaso arterial, podendo em parte ser formado pelo processo de aterosclerose. Os aneurismas micóticos, em sua maioria, são o resultado de êmbolos infectados devido à endocardite infecciosa. 

Fatores genéticos, incluindo síndromes hereditárias, são alguns dos fatores de risco para a formação de aneurismas cerebrais. Outros fatores incluem: hipertensão, tabagismo, deficiência de estrogênio e coartação de aorta. 

A maior parte dos aneurismas se localizam nas artérias que compõem o polígono de Willis, como ilustrado a seguir, sendo 85% destes na circulação anterior [3]:

Figura 1. Visão inferior da neuroanatomia vascular do Polígono de Willis. 

A teoria desenvolvida para explicar o crescimento e ruptura do aneurisma acredita que o desenvolvimento dos aneurismas intracranianos ocorre em um curto período de tempo (horas, dias ou semanas) até atingir os limites de elasticidade permitidos da parede arterial aneurismática. Neste clímax ou o aneurisma se rompe, ou estabiliza (endurecimento). 

Aneurismas que atingem 1 cm ou mais no ápice do seu crescimento são mais propensos à ruptura subsequente, justificado por meio da Lei de Laplace (a tensão na parede aumenta com o quadrado do diâmetro).

Aqueles que não se rompem apresentam resistência à tração devido ao endurecimento endotelial compensatório pelo estiramento da parede, resultado da produção excessiva de colágeno.

Sintomatologia

Apesar de grande parte dos pacientes permanecerem assintomáticos por toda vida, em alguns casos o aneurisma comprime regiões adjacentes ou se rompe, o que leva a uma série de sinais e sintomas.  

Aneurismas não rotos podem se manifestar com:

  • Cefaléia;
  • Perda de acuidade visual;
  • Neuropatias cranianas (particularmente paralisia do terceiro nervo);
  • Disfunção do trato piramidal e dor facial.

Quando se rompe, a clínica do paciente costuma ser decorrente de hemorragia subaracnóidea ou intracraniana. Alguns dos fatores de risco para que haja ruptura de aneurisma são:

  • Tamanho: De acordo com os estudos ISUIA (International Study of Study of Unruptured Intracranial Aneurysms) e UCAS (Unruptured Cerebral Aneurysm Study), é possível afirmar que há um ponto de corte de maior risco de ruptura de aneurismas: 7mm. Acima deste tamanho, o risco de uma ruptura é maior. O ISUIA ainda propõe taxas de rompimento de acordo com a localização do aneurisma;
  • Crescimento: Aneurismas que aumentam de tamanho têm maior propensão a romper-se. Por isso, aneurismas não tratados devem ser monitorados para crescimento;
  • Localização : Os aneurismas da circulação posterior tiveram as maiores taxas de ruptura, seguidos pelos aneurismas da circulação anterior e pelos aneurismas da artéria carótida cavernosa, que representaram as menores taxas de ruptura;
  • Hemorragias anteriores: Pacientes com história de hemorragia subaracnóidea e com aneurismas menores que 7 mm apresentaram uma taxa de 0,5 % ao ano de rompimento em comparação com 0,1 % ao ano naqueles sem história prévia de HSA, de acordo com o ISUIA. 

Para mais informações sobre manejo e seguimento desses pacientes, acesse nosso texto: Aneurismas cerebrais: manejo e seguimento

Referências

1 – Wiebers DO, et al; International Study of Unruptured Intracranial Aneurysms Investigators. Unruptured intracranial aneurysms: natural history, clinical outcome, and risks of surgical and endovascular treatment. Lancet. 2003 Jul 12;362(9378):103-10. doi: 10.1016/s0140-6736(03)13860-3.

2 – International Study of Unruptured Intracranial Aneurysms Investigators. Unruptured intracranial aneurysms–risk of rupture and risks of surgical intervention. N Engl J Med. 1998 Dec 10;339(24):1725-33. doi: 10.1056/NEJM199812103392401.

3 – Singer RJ, Ogilvy CS. Unruptured intracranial aneurysms. UpToDate,  Fev 2020.

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