A influenza, popularmente conhecida por “gripe”, é uma doença provocada pelo vírus da influenza do tipo A ou B que causa quadros agudos respiratórios de elevada transmissibilidade em todo o globo, principalmente durante o inverno.
Recentemente, uma nova cepa viral tem provocado uma epidemia no Brasil: a H3N2. Essa cepa não é exclusiva do país: há surtos epidêmicos registrados na Inglaterra, na Escócia, nos Estados Unidos e no Canadá.
Em se tratando da vacinação, é interessante observar que, por não ter tido um papel epidemiológico importante em território nacional até então, a vacina contra influenza de 2021 não englobou esta cepa. Contudo, há dados que sugerem que há uma proteção cruzada, mesmo sem a nova cepa de influenza na composição da vacina, o que enaltece a importância da vacinação anual e vai de encontro aos quadros clínicos mais brandos entre vacinados versus mais graves entre os não vacinados.
Em um contexto de pandemia por COVID-19 e tendo em vista que ambas as doenças possuem sintomatologias semelhantes, a epidemia de influenza tem tido relevância no cenário nacional e tem gerado uma grande procura pelos serviços de emergência.
Para mais informações sobre COVID-19, leia nosso texto: Coronavírus: perguntas e respostas.
Quadro clínico
A clínica é de uma síndrome gripal, caracteristicamente de início abrupto da febre alta (37,8 a 40ºC), mialgia e tosse não produtiva, podendo estar ou não associada à cefaléia, fadiga, tosse produtiva e coriza. Outros sintomas incluem: odinofagia e congestão nasal. Ou seja: sintomas do trato respiratório alto e baixo. A incubação é de cerca de 1 a 2 dias e, em geral, o quadro é autolimitado, com resolução em média de 5 dias.
Diagnóstico
O diagnóstico da doença é eminentemente clínico, a partir da história epidemiológica e dos sintomas que o paciente apresenta.
No Sistema Único de Saúde (SUS) o teste molecular em Tempo Real de reação de transcriptase reversa (RT-PCR) para influenza A e B está disponível para os grupos que estão em um risco maior de desenvolver as formas graves da doença: crianças com fatores de risco, gestantes, adultos com comorbidades e idosos, devendo ser realizado até o 4º dia de sintomas. Além disso, é necessário testar TODOS os pacientes com suspeita de influenza para COVID-19, onde uma amostra única é coletada via swab nasal para análise da PCR.
Uma vez estabelecido o diagnóstico de infecção pelo influenza, é importante orientar o paciente quanto ao isolamento: são necessários 7 dias a partir do início dos sintomas.
Complicações da Influenza
A principal complicação relacionada à doença é a pneumonia, que pode ser primária (pneumonia viral) ou secundária (pneumonia bacteriana). Outras possíveis complicações são: aspergilose, insuficiência respiratória aguda grave com disfunção orgânica e miocardite, por exemplo.
Pneumonia
Uma pequena parcela dos pacientes infectados pela Influenza A ou B desenvolve pneumonia. Os grupos de alto risco para o desenvolvimento de complicações são:
Quando a pneumonia decorre do quadro viral, é chamada primária, sendo a complicação mais grave, mas menos comum da influenza. Pacientes portadores de hipertensão arterial sistêmica e doenças pulmonares crônicas estão mais predispostos a desenvolver esta complicação.
Já a pneumonia secundária é aquela desencadeada por uma bactéria oportunista, como S. aureus e S. pneumoniae. Deve-se suspeitar de uma pneumonia bacteriana em pacientes que, após apresentarem uma boa evolução da infecção respiratória, começam a deteriorar em seu estado geral. Febre alta, tosse com expectoração e evidências infiltrativas em exames de imagem, podem estar presentes.
Clinicamente, a pneumonia é muito sugestiva na presença de dispneia, taquipneia, hipóxia e febre. A suspeita de pneumonia viral por influenza deve acontecer em pacientes com persistência dos sinais e sintomas, incluindo febre alta e dispneia, após 3 a 5 dias no início do quadro gripal agudo.
Já os pacientes com pneumonia bacteriana secundária geralmente demonstram melhora inicial dos sintomas, seguido de recaída da febre, tosse produtiva com expectoração purulenta.
Os achados no exame físico respiratório podem incluir tanto crepitações/estertores, como diminuição dos sons respiratórios.
O diagnóstico pneumológico é feito a partir da clínica somada a um exame de imagem, como a radiografia de tórax – em PA e perfil – e/ou tomografia computadorizada. Caso se trate de uma pneumonia primária, é possível verificar um padrão reticular bilateral e opacidades reticulonodulares com ou sem consolidação. Em alguns casos, é possível verificar consolidação nos lobos inferiores.
A Tomografia Computadorizada (TC) é realizada em casos em que a dúvida diagnóstica permanece diante da imagem radiográfica com a clínica compatível. Nesta, é possível visualizar consolidações peribroncovasculares e subpleurais e/ou um padrão de vidro fosco.
Tratamento para Influenza
O tratamento para influenza com antivirais é preconizado para pacientes que integram o grupo de risco, citado anteriormente, e é feito de forma empírica, tendo em vista que o resultado microbiológico não pode atrasar o tratamento.
O medicamento de escolha é o Fosfato de Oseltamivir na dose de 75 mg a cada 12 horas por 5 dias, para adultos. Ajustes de dose podem ser necessários caso o paciente possua insuficiência renal.
Já as doses pediátricas podem ser conferidas no quadro abaixo e a posologia é a mesma: tratamento por 5 dias, de 12 em 12 horas.
O fármaco é utilizado a fim de reduzir a duração dos sintomas e melhorar o prognóstico do paciente, evitando o desenvolvimento de complicações. O tratamento antiviral deve ser iniciado, preferencialmente, em até 48 horas de início dos sintomas. Contudo, alguns estudos afirmam que, se iniciado em até o 4º dia de sintomas, ainda há boa resposta, no caso de pacientes hospitalizados.
Para mais informações sobre o tratamento de pacientes com pneumonia bacteriana comunitária, acesse nosso texto: Pneumonia: Ambulatório versus Hospital.
Referências
1 – Ramirez JA. Overview of community-acquired pneumonia in adults. UpToDate, Set 2021
2 – Dolin R. Seasonal influenza in adults: Transmission, clinical manifestations, and complications. UpToDate, Nov 2020.
3 – Klompas M. Clinical evaluation and diagnostic testing for community-acquired pneumonia in adults. UpToDate, Jun 2021.
4 – Brasil. Ministério da Saúde. Protocolo de tratamento de Influenza: 2017. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. – Brasília : Ministério da Saúde, 2018