Definição
As ostomias intestinais são anastomoses entre um segmento intestinal e a parede abdominal anterior, que pode ser realizada de forma transitória ou definitiva, e são indicadas quando a restauração da continuidade do trato gastrointestinal não é possível.
A classificação da ostomia geralmente é feita por meio do segmento que será anastomosado (Íleo, cólon, sigmóide) e de acordo com as características cirúrgicas utilizadas para estabelecer a ostomia (em alça, terminal ou continental), sendo o cirurgião responsável por indicar o melhor tipo de ostomia para o paciente.
Ileostomia
É realizada na porção final do intestino delgado. As fezes são líquidas e em maior volume. É preciso esvaziar a bolsa com maior frequência e é preciso um maior cuidado com a hidratação ao longo do dia.
É importante ressaltar que para a maioria dos pacientes não será necessário adequar a dieta, exceto àqueles que perdem um volume de dejetos superior a 1,5L por dia, o que pode ser acompanhado por meio do descarte das fezes em um pote com medidor. Nesses casos, deve haver uma reposição fluída de fibras. Além disso, para evitar o bloqueio da passagem de alimentos próximo a ostomia, o paciente deve ser orientado a consumir pequenas porções de alimentos ao longo do dia. Por fim, é imprescindível observar que esses pacientes estão sob risco de absorção inadequada de fármacos, o que pode ser contornado por meio da administração de drogas líquidas e de rápida absorção, quando possível.
Colostomia
Pode ser feita em vários segmentos do intestino grosso, como cólon ascendente, transverso e descendente, bem como no sigmóide. As fezes tendem a ter um aspecto mais endurecido, a depender do segmento da ostomia.
Aqui não há restrição alimentar, mas sim o estímulo ao consumo de fibras para evitar constipação, uma vez que as fezes possuem consistência mais sólida. Alguns pacientes produzem muitos gases, o que pode ser reduzido por meio de uma adequação na escolha dos alimentos. Por fim, é interessante observar que, para alguns pacientes com colostomias distais, pode ser necessário estabelecer uma rotina de irrigação do cólon descendente ou sigmóide com água para provocar o esvaziamento intestinal.
A bolsa de ostomia
É a mesma para colostomia e ileostomia. Contudo, há diferentes tipos no mercado: drenável ou fechada, transparente ou opaca, de uma ou duas peças. A escolha do reservatório deve ser feita em conjunto com o paciente e a equipe médica. É importante realizar essa avaliação junto ao estomaterapeuta, somando o aconselhamento pré operatório e a preparação do paciente para se adaptar à bolsa.
Aconselhamento do paciente
Alguns estudos retrospectivos comprovam que o aconselhamento prévio do paciente reduz as chances de complicações pós-cirúrgicas, aumentam a qualidade de vida e reduzem o tempo de internação. É importante abordar aspectos como sexualidade, custo financeiro e aceitação do paciente e de sua família à nova realidade. Além disso, o plano terapêutico deve ser apresentado com clareza para este, incluindo o que será feito após a alta hospitalar, quais são as expectativas com a reabilitação e como é o acompanhamento médico, a fim de reduzir a ansiedade que pode surgir diante de todo o processo.
Cuidados após a ostomia
O tipo de ostomia interfere diretamente no cuidado que os pacientes devem estabelecer. Em geral, as ostomias intestinais em alça requerem maior cuidado, uma vez que a área anastomosada é maior. Além disso, é importante ressaltar que o volume de líquido perdido é inversamente proporcional à distância do procedimento da válvula ileocecal: quanto mais próximo a esta, menor será a quantidade de líquido perdida, tendo em vista a reabsorção de água ocorrida ao longo do intestino grosso. Dessa forma, a necessidade de reposição hídrica do paciente varia conforme a ostomia realizada. Atenção especial deve ser dada a pacientes que passaram por uma ileostomia, uma vez que a perda de fluidos e eletrólitos é maior e, por esse motivo, devem ser orientados sobre sintomas de distúrbios hidroeletrolíticos e desidratação.
Cuidados com a bolsa
A frequência de troca da bolsa depende do modelo escolhido: uma bolsa drenável possui uma abertura inferior, o que dispensa seu desacoplamento do corpo a cada esvaziamento do coletor. É importante ressaltar que não é necessário retirá-la para tomar banho, mas sim trocá-la quando seu ponto de saturação está próximo, sob risco de vazamento, o que ocorre geralmente a cada 4 dias. Já uma bolsa descartável deve ser trocada a cada vez que houver o descarte das fezes.
O esvaziamento das bolsas deve ocorrer quando houver o preenchimento de cerca de ⅓ de seu volume, o que auxilia inclusive a evitar odores indesejáveis. Outro aspecto importante para evitar odores é manter a abertura da bolsa sempre limpa e ao esvaziá-la, utilizar sprays odorizados no local de descarte.
Cuidados com a pele ao redor do estoma
O paciente deve atentar-se à coloração, ao brilho, à umidade, ao tamanho e à forma do estoma. Além disso, o uso de alguns fármacos tópicos pode ser necessário para auxiliar na aderência da bolsa à pele e prevenir vazamentos, bem como irritações na epiderme. A limpeza da pele ao redor deste deve ser feita SOMENTE com água e sabão.
Por fim, é imprescindível que o paciente meça a abertura da proteção de barreira da pele periestomal para trocar a bolsa, nos primeiros meses pós ostomia, uma vez que no período pós operatório é relativamente comum a mudança de formato e tamanho do estoma, até que este assuma um formato final.
Referências
1 – Francone TD. Overview of surgical ostomy for fecal diversion. Uptodate, Apr 2021
2 – Landmann RG, Cashman AL. Ileostomy or colostomy care and complications. Uptodate, Jun 2020.