A cardiomiopatia periparto é uma insuficiência cardíaca relacionada à gravidez, que ocorre ao final da gestação/aborto ou, mais comumente, nos primeiros meses de puerpério e que, apesar de rara, se associa a elevada morbidade, com risco de óbito.
Por definição, o valor de corte da Fração de Ejeção (FE) para essa condição ao ecocardiograma é de 45%, e não de 40% como na definição de Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejeção Reduzida (ICFER).
Apresentação Clínica
A apresentação clássica da cardiomiopatia periparto é o surgimento de dispneia paroxística noturna e/ou ortopnéia, além de edema de membros inferiores (ou piora de edema pré-existente), dias após o parto.
Atenção especial deve ser dada ao questionamento: “como diferenciar esses sintomas de dispneia, fadiga e mesmo edema de MMII daqueles próprios da gestação em sua fase final?”. A dica aqui é a seguinte: no puerpério, esses sintomas relacionados à gestação em si tendem a melhorar e desaparecer logo nas primeiras semanas do período pós parto. Logo, caso não melhorem ou, ao contrário, ocorra até uma piora, não podemos deixar passar esse diagnóstico.
A pré-eclâmpsia parece ser fator de risco e pode se sobrepor a essa condição, de modo que um dos principais diagnósticos diferenciais será edema agudo de pulmão secundário à disfunção diastólica associada à crise hipertensiva e à pré-eclâmpsia ou hipertensão gestacional.
Tratamento
No que diz respeito ao tratamento, serão as mesmas medicações como na IC de FE clássica. Contudo, a idade gestacional irá direcionar as opções terapêuticas, devido ao risco de efeito teratogênico.
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Vasodilatadores, betabloqueadores e diuréticos são a base do tratamento, além de inotrópicos, caso haja choque cardiogênico concomitante.
As classes medicamentosas IECA, BRA ou inibidores do receptor de neprilisina (o sacubitril-valsartana), assim como antagonistas de aldosterona são contraindicados durante a gestação.
Já os vasodilatadores como Hidralazina e Nitratos podem ser usados neste período. Betabloqueadores estão indicados para qualquer período, desde que a paciente esteja estável e euvolêmica, já que devemos evitar se houver sinais de congestão. Diuréticos de alça, como a Furosemida, também podem ser usados em cenários de sobrecarga volêmica, independente do período gestacional, mas com atenção ao risco de redução do fluxo placentário.
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