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A Cistite consiste em uma Infecção do Trato Urinário (ITU) restrita à bexiga, sendo uma das grandes causas de infecção na população geral e, consequentemente, de consultas nas unidades de saúde.
Para mais detalhes sobre o quadro clínico das ITUs, acesse nosso texto: Manifestações gerais das Infecções do Trato Urinário.
Além disso, a cistite, por ser um dos principais motivos para o uso de antibiótico em mulheres saudáveis, é um quadro frequentemente tratado de maneira inapropriada, seja pelo uso de antibióticos de amplo espectro desnecessário, seja por tratamento prolongado.
Para mais detalhes sobre o uso apropriado de antibióticos, acesse nosso texto: 6 passos rumo ao uso apropriado de antibióticos.
Em cerca de 80% dos casos a cistite o patógeno etiológico é a bactéria Escherichia coli, um bacilo gram negativo pertencente à família Enterobacteriaceae. Outros agentes podem ter como agente etiológico o Staphylococcus saprophyticus, algumas espécies de Proteus e de Klebsiella, além do Enterococcus faecalis.
Dessa maneira, dado um quadro clínico sugestivo, podemos iniciar o tratamento empírico voltado principalmente a esses patógenos, em especial a E. Coli. O exame de urina simples (EAS ou sumário de urina ou urina tipo I) pode nos auxiliar quanto ao diagnóstico, mas não é indispensável.
As alterações no sumário de urina que podem indicar uma ITU em curso são:
- Piuria > 10.000 leucocitos/campo;
- Bacteriuria;
- Nitrito positivo (não é um fator sensível nesses casos, mas apresenta alta especificidade).
Quanto à realização do exame de urocultura, as únicas indicações consistem em:
- Imunossupressão;
- Manipulação recente do trato urinário;
- Exposição recente a antibióticos;
- Infecção recorrente;
- Idade avançada.
Caso seja realizada a urocultura em pacientes com sintomatologia clássica, a cistite será considerada a partir de um resultado > 1.000 UFC/ml, ao passo que, valores > 10.000 UFC/ml são indicativos de uma pielonefrite, quando clínica compatível.
Assim, otratamento de cistite será direcionado ao agente etiológico mais provável do quadro. A primeira escolha, em se tratando de tratamento empírico para mulheres na pré-menopausa com sintomas clássicos, a recomendação é o uso do Sulfametoxazol + Trimetoprima por 3-5 dias, mas o médico assistente deve-se atentar no contexto em que a taxa de prevalência de E. coli seja < 20%. A Nitrofurantoína (3-5 dias), a Fosfomicina (dose única) e o Norfloxacino (3 dias) são alternativas eficazes ao uso do Sulfametoxazol + trimetoprima.
Realizado o tratamento empírico, não há necessidade de exames de cultura para controle de cura nos casos simples, cujos sintomas regridem com o uso do antimicrobiano.
Para os pacientes que apresentaram uma hematúria no EAS inicial, pode-se repetir o exame após algumas semanas para avaliar a persistência do achado.
Já os pacientes que não apresentaram melhora dos sintomas em 48-72 horas após início do tratamento empírico, ou recorrerem aos sintomas em poucas semanas, deve-se estender a propedêutica em busca das condições que possam estar causando o quadro, através da Urocultura e do EAS. Nesses casos, deve-se escalonar o antimicrobiano após os resultados dos exames.
Referências
1 – Hooton TM, Gupta K. Acute simple cystitis in women. UpToDate. 2019.
2 – Coelho BFL, Murad, LS, Bragança, RD. Manual de Urgências e Emergências. Ed. Rede de Ensino Terzi, 2020.