Classicamente, a cada cinco anos a American Heart Association (AHA) publica novos guidelines sobre reanimação cardiopulmonar (RCP) após compilação e análise das melhores evidências disponíveis na literatura. Esses materiais servem como base para a elaboração e atualização dos cursos de simulação realística chancelados internacionalmente pela entidade, tais como o ACLS, PALS e BLS.
O International Liaison Committee on Resuscitation (ILCOR) é uma entidade multicêntrica que estimula e fomenta o desenvolvimento de estudos na área da reanimação cardiopulmonar.
As atualizações direcionadas de 2019 publicadas em 14 de novembro pela AHA, compilam os highlights das novas diretrizes e nos dão uma prévia do que poderemos esperar dos novos guidelines e atualizações dos cursos a serem publicadas em 2020.
Nesse contexto de busca pela melhor evidência o ILCOR se organiza em forças-tarefas para revisar e debater sobre as milhares publicações sobre o tema. De novembro de 2018 a março de 2019, seis dessas forças-tarefas (mais precisamente: 1. Suporte Básico de Vida; 2. Suporte Avançado de Vida; 3. Pediatria; 4. Suporte de Vida Neonatal; 5. Educação, Implementação e Equipes e Suporte Básico de Vida; 6. Primeiros Socorros) publicaram esboços dos consensos discutidos.
As análises das evidências dão-se a partir de revisões sistemáticas, finalizando com um manuscrito para publicação em periódicos, onde podemos encontrar a avaliação de risco de viés através da ferramenta GRADE , forest plots resumindo visualmente os desfechos analisados nos mais diversos trabalhos e as terminologias peculiares utilizadas em cada contexto.
Os destaques das atualizações direcionadas de 2019 não mostram grandes mudanças, mas reafirmam importantes conceitos discutidos na prática clínica diária. Veja em tópicos:
Telefone celular
Com a evolução dos meios de comunicação e com o fácil acesso à população à ferramentas como o telefone celular, a AHA reafirma a recomendação para que centros de atendimento de emergências ofereçam instruções para os solicitantes de auxílio via telefone para início precoce de RCP para vítimas extra-hospitalares, independente da idade.
Manejo de vias áreas
Sobre o manejo das vias aéreas, a AHA corroborou três possíveis estratégias de manejo durante a reanimação:
1. ventilação com bolsa-máscara;
2. Implantação de via aérea extraglótica;
3. Intubação endotraqueal.
Todas essas estratégias forma tidas como viáveis para o contexto da PCR, a depender do escopo de prática do socorrista que está prestando o atendimento e da efetividade da própria ventilação do doente.
Vassopressores
Sobre os vasopressores, a recomendação de aplicar epinefrina isolada em detrimento da vasopressina se mantém, considerando principalmente o acesso a esse medicamento e a fácil posologia. Pode-se considerar utilizar a vasopressina, mas não há nenhum benefício nisso. Assim como a associação de ambas as drogas pode ser utilizada, mas também sem evidências de qualquer benefício maior que o uso isolado dos medicamentos citados. Sobre o momento de aplicar a epinefrina em ritmos de PCR chocáveis e não chocáveis: nenhuma mudança nas recomendações de 2015.
RCP extracorpórea
Ou seja, a implantação de bypass cardiopulmonar durante a reanimação de um paciente com PCR: a AHA afirma que não há evidências suficientes que corroborem o uso rotineiro dessa prática.
Pediatria
Mais uma vez a AHA reforçou a importância de uma ventilação eficaz, considerando que a maioria das PCRs em crianças é secundária à deterioração ventilatória. Nesse contexto, o uso de bolsa-máscara pode ser uma alternativa a uma via aérea avançada.
A implantação rápida de ECMO (oxigenação por membrana extra corpórea) arterial durante RCP ou com retorno da circulação espontânea (RCE) não sustentado/intermitente pode ser considerada em crianças cardiopatas e em PCRs intra hospitalares, caso haja profissionais com experiências em ECMO presentes.
À respeito do controle da temperatura pós PCR pediátrica, um grande estudo randomizado não mostrou diferenças estatisticamente significativas quando se comparou hipotermia terapêutica moderada e a manutenção estrita de normotermia (32º a 34º versus 36º a 37,5ºC, respectivamente).
Pré-sincopes
Ainda nesse curto documento de atualizações, a AHA discute brevemente e faz uma recomendação objetiva sobre o manejo de pré-sincopes. Sobre esse tema, as duas recomendações prioritárias são, após o reconhecimento do quadro clínico, recomendar ao paciente que assuma ou mantenha uma posição segura como sentar ou deitar; e considerar a realização de manobras de contrapressão física nas partes inferiores do corpo até a eliminação dos sintomas ou a ocorrência de síncope.
Referência
1 – Panchal AR, Duff PJ, Escobedo, MB et al.; for American Heart Association (AHA). Destaques das atualizações direcionadas nas Diretrizes de 2019 da American Heart Association para Ressucitação Cardiopulmonar e Atendimento Cardiovascular de Emergência. 2019
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