6 pontos fundamentais para realizar o acesso intraósseo em situações de emergência

Definição

A canulação intraóssea (IO) consiste na introdução de uma agulha na cavidade da medula óssea possibilitando a infusão de fluidos e medicações à circulação sistêmica venosa através da cavidade medular. Essa infusão só se torna possível pelo fato de a medula óssea ser ricamente vascularizada

É importante ressaltar que todas as medicações que são feitas na via endovenosa podem ser feitas pela via IO, e  que a distribuição dos fármacos e fluidos leva praticamente o mesmo tempo que ocorre em acessos vasculares. Além disso, amostras de sangue para exames também podem ser obtidas. 

Indicações

O acesso intraósseo (IO) não é comumente visto nos serviços de emergência, em grande parte devido à falta de treinamento dos profissionais e à insegurança relatada quanto ao procedimento.

Contudo, este tipo de acesso é preconizado principalmente no atendimento à emergências pediátricas, principalmente em casos de parada cardiorrespiratória, status epilepticus e choque hipotensivo, quadros em que a hipovolemia e a vasoconstrição podem prejudicar no efeito terapêutico de fármacos em decorrência do colabamento de vasos sanguíneos. Vale ressaltar que para a idade pediátrica, a administração de drogas e fluidos via IO deve ser a primeira escolha, quando comparado a via endotraqueal (AHA, 2015) e é uma escolha possível para qualquer faixa etária quando o acesso endovenoso encontra-se dificultado.

Contraindicações

Caso não obtenha-se sucesso no acesso IO na primeira tentativa, é contraindicado realizar segunda tentativa no mesmo osso, por risco de fraturas ósseas e extravasamento de líquidos, que, por sua vez, podem resultar na síndrome compartimental. Além disso, não é preconizado que se faça o acesso IO em casos de queimadura e/ou infecções no local de punção, doenças ósseas ou fraturas por esmagamento, principalmente de bacia.

Dispositivos: automáticos x manuais

Para obter o acesso, há duas alternativas: utilizar dispositivos automáticos ou manuais. Como dispositivos manuais podemos citar a agulha de Cook e a agulha de Jamshidi. Os dispositivos de inserção automática são o perfurador elétrico e o Bone Injection Gun (BIG)

Uma alternativa a esses dispositivos é a inserção manual da agulha de mielograma. Neste caso, o profissional deve ter vasta experiência e procurar utilizar o material mais indicado.

Agulhas hipodérmicas 40×12 não são idealmente indicadas para o acesso intraósseo, pois não possuem espessura adequada, o que pode resultar em uma torção, bem como obstrução de passagem dos fármacos pelo acesso IO. Porém, a American Heart Association (AHA) em seu Manual do Suporte Avançado de Vida em Pediatria de 2015, sugere o uso de uma agulha hipodérmica de grande calibre (no mínimo calibre 18), na situação de não se ter a agulha IO padrão à disposição. 

Sítios de punção IO

O local mais recomendado para a punção em idade pediátrica é a tíbia proximal, 1 a 3 cm abaixo da tuberosidade tibial – logo abaixo da placa de crescimento – na parte plana do osso. Além deste, pode-se considerar a tíbia distal, acima do maléolo medial, o fêmur distal e a espinha ilíaca anterossuperior. Deve-se posicionar o acesso IO em locais distantes das epífises ósseas, a fim de evitar qualquer intercorrência para o crescimento da criança.

Complicações

As principais complicações do acesso intraósseo decorrem do mau posicionamento da agulha e do desconhecimento técnico de fixação desta. São estas: infiltração ou extravasamento subcutâneos, síndrome compartimental, infecções decorrentes da falta de antissepsia, fraturas ósseas resultantes de agulhas inadequadas à idade pediátrica, infiltrações da epífise com prejuízo ao crescimento infantil e possível embolia gasosa, que até então fora relatada somente em animais.

Por fim, vale ressaltar que o acesso IO pode permanecer por apenas por 24 horas no paciente, sob risco de elevar os índices de complicações.  

Referências

American Heart Association. Pediatric Advanced Life Support, 2020

Perron, CE. Intraosseous Infusion. Uptodate, Abril de 2021. Acesso em 17 de Abril de 2021. 

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